quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pula a fogueira, Canguru! O Inferno na Austrália.

Canguru em campo queimado nas
proximidades de Melbourne, Austrália
Enquanto estou elaborando uma série de pequenos artigos para o blog sobre Paleoclima, é impossível não deixar um pouco de lado o passado para dar atenção ao que está acontecendo bem debaixo dos nossos narizes: a violenta onda de calor na Austrália.

Assim como os EUA, no verão passado do Hemisfério Norte e o Rio de Janeiro, logo após o Natal, a Austrália está sofrendo com uma onda de calor brutal, com recordes de temperatura sendo sucessivamente quebrados. No dia 07 de Janeiro, pela primeira vez desde que as temperaturas naquele país passaram a ser continuamente monitoradas, no início do século XX, a média das temperaturas máximas passou dos 39°C por 5 dias consecutivos. A onda de calor não deu trégua desde então e o recorde, que já é de seis dias, deve continuar a se ampliar.


Ontem, o recorde de temperatura foi quebrado, com a média das temperaturas máximas sobre a Austrália chegando a impressionantes 40,33°C. A "média das temperaturas médias" também foi recorde: 32,36°C, batendo a marca do dia anterior. Lembro que estas são médias calculadas ao longo do País (em determinados locais, as condições são bem piores!) e que a quantidade de calor envolvida nisso é enorme, pois a Austrália tem dimensões continentais.

Algo que repercutiu na imprensa mundial foi que o Birô de Meteorologia da Austrália teve de incluir outras cores no mapa de previsão. Como temperaturas acima de 50°C praticamente não ocorreram no passado (exceto em um outro ponto isolado), a escala de cores de temperatura acabava nesse valor. Assim, com a onda de calor de 2013, o instituto teve de incluir novas cores (um "deep purple") para contemplar previsões de temperatura acima de 50 graus, como na figura ao lado.

Mas para muito além das figuras pitorescas, de um canguru literalmente pulando fogueiras e de um mapa com cores estranhas à gradação harmoniosa adotada originalmente pelos meteorologistas australianos, impressionam as cenas dos incêndios e os números dos impactos. Ontem, equipes de emergência estavam combatendo centenas de incêndios florestais, sendo 130 apenas no estado de New South Wales. Centenas de pessoas estão sendo sendo diariamente retiradas de suas casas.

Como tenho afirmado, há alguns anos seria admissível o discurso excessivamente cauteloso e fleugmático de que um único evento extremo (uma tempestade, um furacão, uma onda de calor, um recorde de degelo, etc.) não poderia ser atribuído à mudança global. Mas francamente, já passamos disso, e muito. Não é somente um, não são apenas dois ou três eventos isolados. Todos os efeitos que eram esperados acompanhando o aquecimento global vêm se manifestando. A cada dia. Em cada canto do planeta.

Para encerrar, não deixando de trazer de volta um debate que já travei em textos anteriores, principalmente neste, quero deixar uma imagem que considero bastante simbólica. É o de uma escola primária do sudeste Australiano, que foi engolfada por chamas e ficou inteiramente destruída. Muita ilusão tem sido vendida sobre usar recursos de combustíveis fósseis para a Educação. Na verdade, como mostrei no texto mencionado, estes são irrisórios e ilusórios, em contraste com a indecência e gigantismo dos lucros das corporações. Mas ainda que não o fossem, acredito que a imagem ao lado nos leva a questionar se valeria a pena...

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